segunda-feira, 26 de setembro de 2022

 Mindelo, 25 de Setembro de 1987 - 25 de Setembro de 2022 - 35 anos do registo civil de Dénis da Graça Andrade.

Aos 25 dias de Setembro do ano de 1987 era apresentado na conservatória do Registo Civil de São Vicente para ser feito o registo civil, uma criança de sexo masculino que os pais puseram o nome de Dénis da Graça Andrade.

Não me lembro desse dia, mas nesse dia estiveram presentes, pelo menos três pessoas:

Os pais, Avelino da Conceição Andrade e Joana Rosa da Graça, cidadãos, ambos naturais da Ilha de São Vicente de Cabo Verde.

E a madrinha, Maria do Carmo Soares, cidadã natural da ilha de São Nicolau de Cabo Verde, residente nessa cidade do Mindelo.

Era uma sexta feira. Ontem completaram-se 35 anos do registo civil de Dénis da Graça Andrade, mas como foi um domingo e tal facto foi num dia de semana, hoje 26 de Setembro 2022, uma segunda feira, assim como o dia do meu nascimento, uma segunda feira, 31 de Agosto de 1987, homenageio, mais uma vez, os meus pais terrenos que Deus me deu, Avelino da Conceição Andrade e Joana Rosa da Graça e que no dia 1 de Outubro de 2005, estavam juntos no aeródromo de São Pedro, enviando um filho com 18 anos de idade para Portugal com vista a continuar os estudos e uma palavra de agradecimento a minha madrinha Maria do Carmo Soares pela amizade.


E Obrigado meu Senhor, por tudo que tens feito e por tudo o que irás fazer, por tuas promessas e tudo o que és eu Quero Agradecer.

Aos 26 dias de Setembro de 2022.



sábado, 2 de outubro de 2021

 Lembranças que o tempo não levou - 2 de Outubro de 2005 - 2 de Outubro de 2021.


Fazem hoje 16 anos que cheguei as paragens de Portugal, Lisboa estava me esperando por volta das 13 horas de 2 de Outubro de 2005. Uma tarde de sol do inicio de outono, o primeiro domingo de Outubro de 2005. Como me esquecerei. Há lembranças que os protagonistas não podem esquecer. Mas como o tempo passou.

Uma viagem para uma nova realidade com vista a continuar os estudos. Levava na bagagem a promessa duma bolsa de estudos. Pensava que não seria para muito tempo, mas já lá vão 16 anos. Mas a verdade é que essa mudança de morada começou no sábado 1 de Outubro de 2005, 2 dias depois do aniversário da minha mãe Joana celebrado no dia 29 de Setembro. No dia 1 de Outubro despedi-me de quase toda a minha família mais próxima residente em S. Vicente, no então aeródromo de São Pedro. 

Por volta das 15 horas, foi o meu voo com destino, inicialmente a ilha do Sal, que tinha o único aeroporto internacional de Cabo Verde. Aquele sábado 1 de Outubro, um sábado como este, foi um dia de emoções muito fortes pois passei toda a manhã a correr para despedir-me de vários familiares e amigos que não sabiam da minha viagem. 

Foi um dia que jamais me esquecerei pois apesar de ser um dia de despedida foi um dia muito alegre. A certa hora da tarde estavam presentes a porta da casa da minha avó Rosa, meu Pai Avelino no seu carro e a Dra. Odette, no seu carro, para além de vários amigos e familiares que foram despedir de mim ao sair de casa.

Apesar de ser um momento de despedida foi um momento de muita alegria e confraternização, devido ao pequeno atraso que se deu no voo. Tal atraso não foi coincidência pois deu ainda para ter a grata alegria de conhecer o Dr. Rosário que fez a minha cesariana, quando eu nasci. Ele também estava lá naquele aeródromo. Foi levar um familiar que também seguia viagem. A verdade é que foi a primeira e única vez que trilhei conversa com esse médico que a minha mãe tanto me falava durante a minha infância. Coincidências ? Não acredito. Assim como não foi coincidência ter sido colocado por Deus no lugar certo, na hora certa, no hospital Baptista de Sousa, naquela hora da madrugada daquele 31 de Agosto de 1987.

Não parecia nada um dia de despedidas mas de muita alegria, aquele 1 de Outubro de 2005. O tempo passou mas as lembranças permanecem para sempre em minha memória. 

Ainda me lembro ao subir as escadas e antes de entrar, voltar para trás e ver ao longe os meus familiares e amigos, que ainda estavam presentes a certa distância que não era tanta, pois a distancia de segurança não era muita no aeródromo de São Pedro, antes das obras de remodelação em 2009 que o transformaram em aeroporto internacional. 

Depois de uma escala na ilha do sal, onde fui recebido por minha irmã Leonor, cheguei num Domingo, dia 2 de Outubro em Lisboa, Portugal. A minha espera estava o meu tio Tony, irmão da minha mãe Joana, e mais 3 estudantes indicados pela minha tia Clotilde, irmã da minha mãe, que seriam meus colegas de casa, Húmaro (Tibério), Narine e Sara.

O tempo passou e já estou com 16 anos de Portugal. Muitas alegrias e lutas, mas Deus em todos os momentos esteve comigo, colocando muitas pessoas em meu caminho que me ajudaram a trilhar este caminho até hoje. 

Portugal abriu-me novos horizontes e deu-me muitas oportunidades em todas áreas de minha vida, mas a lembrança da minha terra natal permanece para sempre em minha memória.

Portanto, parafraseando o apóstolo Paulo: "Portanto, dai a cada segundo o que deveis, a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra" Romanos 13:7

Por fim a Deus toda a honra e Glória, porque "Dele e por ele e para ele são todas as coisas. Glória pois a Ele eternamente". Romanos 11:36


domingo, 9 de maio de 2021

 


Celebra-se hoje O dia das mães na maioria das Igrejas Evangélicas
O dia das mães como celebração moderna foi criada nos Estados Unidos da América por Anna Jarvis (1864-1948), uma jovem norte-americana que havia perdido sua mãe, a ativista Ann Maria Reeves Jarvis, em 1905.
A proposta de Anna Jarvis para a criação do Dia das Mães foi idealizada em 1907 e colocada em prática, pela primeira vez, em 1908, como um memorial a sua mãe. A atuação da filha pela criação desse momento de celebração das mães espalhou-se e contagiou os Estados Unidos. Em 1910, o estado da Virgínia Ocidental oficializou o dia das mães no segundo domingo de maio.
Quatro anos depois, em 1914, Anna Jarvis conseguiu concretizar o seu sonho. O Congresso dos Estados Unidos aprovou a criação do Dia das Mães e sua implantação em todo o país. O presidente Woodrow Wilson, por sua vez, aprovou a medida do Congresso. Aos poucos, o Dia das Mães transformou-se em algo muito importante.
Assim a maior parte das Igrejas evangélicas o celebra no 2º domingo de Maio. Na minha infância o celebrava assim na igreja onde entreguei a minha vida a Jesus, assim como em Portugal. Mas como algo que é convencionado não existe unanimidade neste aspeto até porque o que importa é o gesto e esse gesto de homenagear as mães não depende do dia do Ano.
Por isso há igrejas evangélicas que o celebram no 1º Domingo de Maio seguindo a tradição do país onde se localiza e no caso de Portugal por ter uma tradição católica que sempre teve ligação com o estado influenciou essa celebração muito ligada a Maria que foi a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sabemos contudo, que em Portugal, por muito tempo era celebrada a 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição, sendo depois alterado para o 1º Domingo de Maio.
Em Cabo Verde também o dia das mães celebra-se no 1º Domingo de Maio por ser um país com tradição católica mas as igrejas evangélicas sempre o celebraram no 2º Domingo de Maio, visto a maioria das igrejas evangélicas terem origem nos Estados Unidos que foi o primeiro país onde foi oficializado o dia das mães e por esta celebração moderna não ter origem católica.
Assim sempre o celebrei no 2º Domingo de Maio, o que não implica que não possa dar um presente ou demonstrar este gesto de homenagem noutro dia qualquer até porque esta é uma convenção criada pelo ser humano.
Assim sendo, neste dia 9 de Maio, homenageio a minha mãe Joana Rosa da Graça por tudo o que fez por mim, em especial por ser a pessoa que me acordava para ir a Igreja do Nazareno, quando o sono era grande. Obrigado também por todas as vezes que me autorizaste a ir a todos os passeios e retiros espirituais da Igreja assim como as viagens a Santo Antão e Santiago no âmbito de tarefas extra curriculares, mesmo quando sentias receio de me deixar ir aventurar. Obrigado por todo o carinho e cuidado e todo o investimento em minha educação. Que Deus te abençoe grandemente com muitos anos de vida repletos de saúde.
Como também não posso esquecer do meu pai Avelino da Conceição Andrade, que já não está entre nós e que se fosse vivo teria feito no passado dia 4 de Maio de 2021, 70 anos, por todo carinho demonstrado e pelo muito que fez por mim pois apoiou-me nos principais momentos da minha vida em Cabo Verde, reconhecendo-me, e investindo na minha educação.
Estes são os pais terrenos que Deus me deu e que foram os primeiros que investiram em mim.
Aproveito a oportunidade e como é dia das mães, para falar das suas mães, porque tanto o meu pai Avelino da Conceição Andrade, que curiosamente era o primeiro filho (primogénito, neste caso) de minha Avó Martina da Conceição Andrade e a minha mãe Joana Rosa da Graça, primeira filha de minha Avó Rosa Maria Silva da Graça, ambos são naturais da ilha de S. Vicente tal como eu, mas as suas mães nasceram em ilhas diferentes, respetivamente, a minha avó paterna, Martina da Conceição Andrade, nasceu na Ilha de S. Nicolau em 1925 e a minha avó materna Rosa Maria Silva da Graça nasceu na ilha de Santo Antão, em Ribeira de Janela em 1930 e veio para São Vicente com 1 ano de idade em 1931 com os pais, embora tenha sido registada a 30 de Junho de 1931 em São Vicente e seu marido, meu Avô materno Aprígio Antônio da Graça também era de Santo Antão, do sítio das Fontainhas.
Mas parece coincidência mas não é, pois o facto é que ambas as minhas avós faleceram no mesmo dia, com uma diferença de 16 anos. A minha avó paterna, Martina da Conceição Andrade faleceu a 4 de Abril de 2004, em S. Vicente quando eu tinha 16 anos, tendo eu estado no seu funeral levado curiosamente por minha avó materna bem cedo naquele dia, sendo que estiveram também presentes, o meu irmão Hélder e boa parte da minha família materna, a minha mãe Joana e minhas tias maternas (irmãs da minha mãe) residentes em S. Vicente. A minha avó materna, com quem convivi durante a minha infância e que também ajudou minha mãe na minha criação faleceu no ano passado, dia 4 de Abril de 2020, quando eu tinha 32 anos.
Assim sendo, aproveito para homenagear indiretamente estas duas ilhas (Santo Antão e São Nicolau) que são as ilhas que mais contribuíram em termos populacionais para o povoamento da ilha de S. Vicente, pois esta por ser uma ilha de povoamento tardio (1797), recebeu população de todas as ilhas de Cabo Verde.
Para terminar desejo do fundo do meu coração um feliz e abençoado dia a minha querida mãe Joana Rosa da Graça e a todas as mães do mundo inteiro. Que Deus as abençoe grandemente.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

 


Mindelo 142 anos de cidade

14 de abril de 1879 – 14 de Abril de 2021 – 142 anos da elevação de Mindelo a categoria de cidade.

De 1850 a 1902 "a ilha de S. Vicente passa de um espaço marginal, semi-habitado e periférico a um dinâmico polo de crescimento demográfico, social, administrativo e económico. Tal afirmação não se justifica apenas tendo em conta como quadro de referência o arquipélago de Cabo Verde". Assim o diz o historiador cabo-verdiano António Correia e Silva no seu grande livro "Nos tempos do Porto Grande do Mindelo" que cito "Mesmo se o situarmos no contexto da região meso-atlântica, onde se incluem - além de Cabo Verde - os arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias bem como a Senegâmbia francesa, a Guiné Portuguesa e a colónia inglesa da Serra Leoa, o processo de desenvolvimento de S. Vicente destaca-se por ser rápido e exuberante".

De povoamento tardio, como a ilha do Sal e a mantida inabitada até hoje ilha de Santa Luzia e os ilhéus, Branco, Raso e Rombo,  S. Vicente fazia parte com elas das chamadas "desertas", condição que por certo todas se conservariam, não fosse o produto que deu nome a uma delas (a ilha do Sal foi povoada a partir de 1793 por um particular, Manuel António Martins, que começou a explorar o sal que abundava naquela ilha, produto que ainda abunda especialmente na cratera vulcânica das salinas de Pedra de Lume) e a dádiva da natureza que privilegiou a outra com um porto incomparável no Atlântico Médio (o Porto Grande de S. Vicente).

A ilha de S. Vicente começou a ser povoada oficialmente entre 1794 e 1797 (porque entretanto descobriu se na Aldeia de Salamansa em 1993 um concheiro durante pesquisas arqueológicas que vieram comprovar que a ilha já tinha tido habitantes anteriormente mas não de forma permanente), sendo portanto que para o povoamento oficial em 1794 foram enviadas de Portugal cerca de 44 casais e alguns presos que entretanto não chegaram a ilha, e em 1797 chegaram 112 pessoas enviadas da ilha do Fogo juntamente com o que iria ser o capitão mor da ilha João Carlos da Fonseca Rosado. O Povoamento foi oficializado em uma cerimónia em Julho de 1797, quando foi dado posse aos 232 habitantes que tinha a ilha nessa altura, compostos pelos recém chegados povoadores do Fogo e outros habitantes das ilhas vizinhas que já se encontravam na ilha.

Mas se consideramos a conjuntura de Cabo Verde mesmo o decreto de 1838 que mudava o nome da então pequena Povoação Leopoldina para Mindelo e propunha a mudança da capital da então Vila da Praia de Santa Maria onde estava situada temporariamente por decadência da atual Cidade Velha, para a recém-criada Povoação do Mindelo, mesmo esse decreto não levou a uma real mudança do cenário da ilha que continuava com poucos habitantes. A verdade é que esse decreto nunca foi posto em prática porque a capital permaneceu na Vila da Praia de Santa Maria que posteriormente foi efetivada como capital aquando da sua elevação a categoria de cidade da Praia em 1858.

Tal conjuntura só veio a mudar rapidamente a partir de 1850 com a instalação das primeiras companhias de exploração carvoeira no Porto Grande (é certo que em 1838 os ingleses que eram amigos dos portugueses desde o período da invasão francesa de Portugal e que tinham ido em defesa de Portugal tinham pedido a concessão de exploração do porto e tinham enviado uma missão para explorar as reais condições do mesmo).

Sabemos que os ingleses em 1815 depois de terem vencido Napoleão Bonaparte tinham se tornado na principal potência mundial e com a recente independência de muitos países americanos, Argentina 1816, Brasil 1822 etc., países esses que eram os celeiros do mundo, aproveitaram assim a sua condição de potencia dos mares para expandir a sua influência no mundo.

Mas para isso precisavam de portos amplos no meio do Atlântico que poderiam servir de base para abastecimento dos navios a vapor que circulavam entre a Europa e as Américas trazendo o trigo e outros bens.

Assim a Inglaterra aproveitou da amizade com Portugal para pedir concessão do Porto Grande para exploração.

Mas um dos passos decisivos em direção a instalação das companhias inglesas nas ilhas atlânticas de Portugal e em especial em S. Vicente foi a celebração a 3 de Julho de 1842 do Tratado de Comercio e Navegação entre Portugal e Inglaterra que estabelecia que os súbditos de cada uma das partes contratantes gozaria nos domínios da outra de estatuto de nação mais favorecida.

A despeito da igualdade formal do tratado claramente foram os ingleses os mais beneficiados desse acordo. A partir de 1850 instalaram-se em S. Vicente várias companhias inglesas. Em 1850 a Patent Fuel, em 1853 a Visger & Miller, em 1860 a Wilson Sons & Company, em 1875 a Cory Brothers, entre outras, entretanto essas mesmas companhias foram-se fundindo criando assim o monopólio do carvão e assim o preço foi crescendo cada vez mais.

Uma dessas fusões foi entre a Visger & Miller com a Cory Brothers em 1887 dando origem na grande companhia Millers & Cory. Entre 1850 e 1900 Mindelo teve um tempo de grande crescimento em todos os sentidos tanto populacional atraindo população de todas as ilhas em busca de emprego como a nível económico e social.

Em 1852 a ilha deixou de pertencer administrativamente a ilha de Santo Antão passando a ser um concelho autónomo. Em 1858 a povoação principal foi elevada a condição de Vila do Mindelo, em 1874 Cabo Verde foi ligada ao mundo através dos cabos submarinos que foram estendidos em 1875 a cidade da Praia, em 1879 Mindelo foi elevada a categoria de Cidade. Mas, entretanto, as constantes fusões e a subida do preço do carvão levaram a primeira crise do Porto Grande em 1891 com o começo da fuga dos navios para outros portos atlânticos das potencias rivais, tais como Las Palmas nas Canárias e Dakar no Senegal que operavam melhores preços.

Apesar da melhor posição geoestratégica de S. Vicente e de ter um muito melhor porto que esses portos a ilha começou a enfrentar problemas por um lado pela ganância dos que detinham o monopólio e por outro pela falta de criação de melhores condições de atracação pela potencia colonizadora. Esse problema colocar se ia depois.

De 1850 a 1891, quando estalou a 1ª crise do Porto Grande, todas as empresas de abastecimento do carvão em atividade no Porto Grande tinham sido inglesas.  No teatro das trocas internacionais os atores que detinham a soberania sobre a posição geográfica tendiam a viver somente as custas de taxas, impostos, tributos e outras formas de captação e aproveitamento do recurso “posição geográfica”, deixando as formas de rentabilizar essa mesma posição geográfica nas mãos de empresas estrangeiras.

Essa atitude passiva da administração portuguesa, que também estava a tirar os seus dividendos, possibilitou a administração das companhias inglesas de exploração carvoeira a aplicação de preços cada vez mais especulativos, que lhes garantia grandes lucros, a curto prazo, mas que era ruinosa a longo prazo.

O que veríamos é que o só ter um “recurso natural” com boas condições a partida, não garante o futuro eternamente. Se não vejamos, os portos de Las Palmas nas Canárias e Dakar no Senegal que dispunham de menos condições naturais a partida por duas razões, 1º os seus portos não estavam tão abrigados por não terem amplas baías como a Baía do Porto Grande, por outro lado a sua localização geográfica não era tão estratégica como a localização de Cabo Verde, porque o de Las Palmas encontrava-se muito perto do continente europeu e africano mas muito longe das Américas o que faria ser necessário mais escalas para os navios que partindo da Europa iam rumo aos recém países independentes das américas do Sul Argentina e o Brasil que eram os celeiros do mundo. O porto de Dakar apesar das boas condições naturais também por ficar inserido no continente africano obrigava a um desvio e também obrigava a ter que efetuar nova paragem no meio do Atlântico.

Estas aparentes desvantagens desses portos em relação ao Porto Grande do Mindelo levaram as autoridades portuguesas a relaxarem e a permitir a especulação de preços aplicados pelas companhias inglesas. O jogo do mercado e do lucro fácil e rápido falava mais alto, mas trouxe a longo prazo os inevitáveis resultados.

Em 1891 houve a primeira grande crise do Porto Grande, que resultou da fuga para esses portos de Las Palmas e Dakar de boa parte do tráfego de longo curso que tinha levado Mindelo a ser considerado o principal porto do Atlântico Médio em 1875. As administrações coloniais, espanhola e francesa, respetivamente também faziam investimentos nos referidos portos por forma a criarem melhores condições de atracagem.

Em S. Vicente, as autoridades portuguesas tentaram solucionar o problema criando uma empresa de capital nacional, fazendo com que fosse sacrificado a única praça de então a Praça Dom Luís I, que foi fechada para dar lugar aos armazéns da nova empresa carvoeira em 1895. Essa tentativa de resolver a situação funcionou aparentemente, pois houve uma queda nos preços operados e uma gradual retoma em massa dos navios ao Porto Grande tendo atingindo novo pico de entradas em 1900 superando o anterior pico de 1889.

Contudo, temos que relacionar esse renovar da exuberância do Porto Grande nos últimos anos do século XIX, com a guerra do Transval de 1898 a 1902, na qual estavam inseridos os ingleses. Depois do término desta guerra, o Porto Grande vai sofrer com a queda abrupta das entradas de navios de longo curso nas águas de Cabo Verde. A razão é que por um lado, houve de novo uma subida do preço do carvão operado pelas companhias carvoeiras que de novo combinaram os preços entre si. Para tal, mesmo a recém-formada Companhia Nacional de Cabo Verde, foi britanizada com entrada de capital inglês. Por outro lado, a administração portuguesa, não efetuou as necessárias melhorias do Porto Grande por forma a que fosse modernizado o Porto Grande do Mindelo que continuou a se valer apenas pela sua capacidade natural de ancoragem da Baía.

No século XX, S. Vicente continuou com um ritmo de crescimento em várias áreas mas perderia gradualmente o domínio do comercio transatlântico para outros portos devido em parte pela gradual mudança do carvão para o petróleo como principal combustível pois mesmo com a entrada no mercado cabo-verdiano da companhia anglo holandesa Shell em 1919 a ilha não conseguiu adaptar se as mudanças em virtude de apesar de ter um dos melhores portos do Atlântico com o aumento da capacidade dos navios o Porto Grande não foi alvo dos necessários melhoramentos para aumentar a capacidade de atracagem sendo que o cais acostável só foi construído em 1960 depois da saída da ilha das principais companhias inglesas na década de cinquenta.

Contudo podemos dizer que o crescimento da ilha que não apresentava a partida nenhum proveito para a coroa em menos de 50 anos tornou se no pulmão de crescimento de Cabo Verde e manteve um bom ritmo até a década de cinquenta do seculo XX quando a era da navegação começou a dar lugar a era da aviação.

É interessante que as duas ilhas que foram as últimas a serem povoadas, ilha do Sal em 1793 e S. Vicente em 1794 seriam as duas que comandariam essas duas fases.

A ilha do Sal que tinha tido um crescimento lento na época da exploração do recurso sal marinho, teria um crescimento fulgurante a partir de 1939 com o aproveitamento da sua condição de uma das ilhas mais planas de Cabo Verde no contexto da 2a guerra mundial para a criação do aeroporto que em 1949 se tornaria no único aeroporto internacional de Cabo Verde até fim de 2005.

Novamente foi a posição geoestratégica que colocou Cabo Verde na rota mundial assim como tinha sido nas duas eras anteriores, a era do comercio transatlântico de especiarias e de escravos liderado por Santiago de Cabo Verde onde surgiu a primeira cidade construída pelos europeus nos trópicos, a Ribeira Grande de Santiago atual Cidade Velha e posteriormente na era do Porto Grande do Mindelo.

Atualmente que cenário temos para aproveitar a condição geoestratégica de S. Vicente e de Cabo Verde?

Acredito que o Porto Grande atual caminha a passos largos para uma época de enquadramento no turismo mundial de recreio e de cruzeiros. As condições da Baía do Porto Grande têm demonstrado a sua capacidade de atração desse tipo de investimento. Contudo a Baía do Porto Grande e a sua cidade terão a capacidade para acolher e enquadrar mais que um tipo de atividade que em alguns aspetos tendem a terem usos conflitantes? O porto comercial e o porto de cruzeiros? Que cenário se poderá adotar para que S. Vicente continue sendo uma porta de entrada de mercadorias, sem que isso ponha em perigo a beleza da Baía do Porto Grande considerada uma das mais belas Baías do mundo. Por outro lado, se se adotar uma política somente especializada num tipo de investimento voltado para o turismo de cruzeiro e de recreio, que capacidade de carga a cidade do Mindelo terá para albergar o enorme movimento e a realidade que daí poderá resultar no equilíbrio da população residente, capacidade turística e de salvaguarda dos fracos recursos ambientais?

Acredito que as autoridades competentes estarão a altura dessas novas oportunidades de incremento da posição geoestratégica de Cabo Verde, da valorização da cultura da cidade do Mindelo e do aproveitamento da Baía do Porto Grande como motor de desenvolvimento duma cidade e duma ilha que surgiu e cresceu em função da sua condição de cidade-porto.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 

Monte Verde, 22 de janeiro de 2001 – 22 de Janeiro de 2021 - 20 Anos de grandes decisões



Passaram-se já 20 anos desde que pela primeira vez subi ao ponto mais alto da minha querida Ilha de S. Vicente, o Monte Verde. Sim hoje é dia que a ilha que me viu nascer foi avistada pelo navegador português Diogo Afonso, sendo por isso apelidada de Ilha de S. Vicente por ser o dia que os católicos celebram esse santo (eu não sou católico, nem venero santos nem imagens de escultura). De todo o modo este dia é feriado municipal na minha ilha natal pelo que é um dia onde não se registam atividades letivas nem funcionam as diversas instituições públicas na ilha e por isso é aproveitado para passeios e outras atividades. Também nesse dia, na minha infância era dia quase sempre da final da Taça de Futebol de S. Vicente. Nesse dia 22 do 1º mês do 1º ano do século XXI enfrentavam-se dois clubes na final, um mais reconhecido, o meu Clube Sportivo Mindelense e o modesto em títulos naquela época, o Batuque Futebol Clube que tinha subido a 1ª divisão na época de 1995/1996 e desde aquela época fazia a frente todos os anos aos grandes de S. Vicente ficando 5 épocas seguidas no 2º lugar até que nesse dia enfrentava o meu Mindelense na 1ª final entre os dois. 

O Mindelense tinha batizado o Batuque na 1ª divisão de 1995/1996 com duas contundentes vitórias de 4-0 e 3-0 na sua época inaugural, mas este clube vinha atingindo grandes patamares com essas sucessivas vice-lideranças do campeonato regional de S. Vicente pelo que esperava-se um jogo difícil para o meu Mindelense e a verdade é que naquele 22 de Janeiro de 2001 o Batuque alcançou seu 1º título oficial vencendo o Mindelense nas grandes penalidades. (1-1, no tempo regulamentar, 5-4 nas grandes penalidades). Mas nesse dia eu não fui ao estádio Alcindo Nascimento (sim eu já sou do tempo do campo da Torrada, posteriormente transformado em Estádio Alcindo Nascimento, pois o Estádio Adérito Sena começou por um processo de remodelação finda a época de 1995 e que durou vários anos até 2007) tentar a sorte como muitos outros meninos de entrar no estádio, nem fiquei no monte atrás do Estádio do lado do Liceu Augusto Pinto como era hábito de boa parte dos meninos de Monte Sossego para ver o jogo a meias com a parede do Estádio Alcindo Nascimento. 

Nesse dia tomei uma grande decisão em minha vida. Aliás foi um ano de grandes decisões. Tinha começado a frequentar a Igreja do Nazareno de Monte Sossego em meados do Ano 2000 influenciado por um amigo Nilton Medina. No dia 22 de Janeiro de 2001 decidi em vez de ficar na cidade a acompanhar o jogo presencialmente ou em casa junto a rádio em que muitas vezes quando não ia ao estádio ficava atento a ouvir os relatos do meu tio Paulino Andrade (primo do meu pai Avelino Andrade) pois eu gostava muito dos seus relatos pois o fazia com paixão, decidi ir pela 1ª vez a um passeio da Igreja do Nazareno de Monte Sossego, e logo seria a primeira vez  que escalaria a pé ao ponto mais alto da ilha com os seus 774 metros de altitude, o Monte Verde, apelidado assim por ser dos poucos lugares de S. Vicente em que se vislumbra uma paisagem mais verde devido ao facto de apresentar um microclima especialmente húmido o que faz com que esteja envolto por nuvens em boa parte do ano. Ali encontramos a maior parte das espécies endémicas de S. Vicente. O Monte Verde é um dos montes mais icónicos para os São vicentinos, a par claro do Monte Cara  com os seus 480 metros de altitude.

Eu como amante da Geografia sempre desde pequeno fui adepto de aventuras e gosto especialmente de subir montes a pé. Aliás, particularmente não sou muito fã de automóveis, desde pequeno ia a quase todos os sítios da pequena ilha de S. Vicente a pé. Assim sendo, uma das primeiras aventuras foi na companhia de meu primo Anildo Isaguy que subimos o Monte Sossego (Alto de São João ou Alto Bomba, por ter umas antigas instalações militares) com os seus modestos 125 metros de altitude. Creio que nesse dia não atingimos o pico mais alto, mas foi uma aventura que a descer foi complicada porque não encontrávamos o caminho de casa. Posteriormente subi vários outros montes, a maior parte dos quais sozinho, o Monte Guto (126 metros) de onde se tem uma vista de vários ângulos da cidade do Mindelo desde a parte norte de Chã de Alecrim, passando por Madeiralzinho, Cruz João Évora, Fonte Inês, Ribeirinha, Vila Nova, Lombo Tanque, Bela Vista, Fonte Francês, Monte Sossego, etc…; outras vezes subi colinas mais modestas como a Rotchinha (30 metros), Alto do Fortim (60 metros), Monte Passarão, Monte Craquinha, Monte de Julião, Monte de Cruz de Papa, só para falar nos da minha ilha. 

Em Portugal já subi vários montes também a pé na cidade de Lisboa, percorrendo as 7 colinas de Lisboa sempre a pé, desde Castelo de São Jorge, passando pelos miradouros de Santa Luzia, de Nossa Senhora do Monte, da Graça e da Penha de França, em S. Tomé subi o Pico do Bobo Forro a pé, em Santiago tive o prazer de ir ao Pico de Antónia (neste caso foi de carro boa parte da jornada pois este ponto mais alto da ilha de Santiago atinge uma altitude 1394 metros), aquando da minha 1ª ida em 2003 a ilha de Santiago, ano em que fui escolhido juntamente com a colega Larissa Oliveira como um dos 2 melhores alunos do Liceu Ludgero Lima para na companhia de outros alunos das demais escolas secundárias de S. Vicente representar a ilha de S. Vicente na capital do país. Por tudo isso e muito mais posso dizer que sou um amante de montanhas e em S. Vicente era meu hábito em finais de tarde ir ao Alto de São João ver a cidade do Mindelo lá em baixo e a Baía do Porto Grande ao longe.

Mas o que me levou a decidir ir ao Monte Verde nesse dia foi a minha firme decisão de aliar-me a fé Cristã. Nessa jornada de vida reparei que em determinados momentos precisamos abdicar de coisas que mesmo não sendo erradas estão a ocupar o centro das nossas vidas. E o futebol era certamente uma delas. Para mim abdicar de ver um jogo do meu clube preferido foi uma decisão difícil, mas mais tarde na Páscoa de 2001 tive que tomar uma decisão mais séria. Nesse ano de 2001 militava nos iniciados da Associação Académica do Mindelo, um dos grandes clubes de S. Vicente e que era dos melhores a nível dos escalões base. Tinha chegado a este clube através de contactos de um colega de escola Janilson Lopes (Dja), a quem muito agradeço, pois apesar de não ser Micá, foi um prazer jogar nesse clube. No entanto, na Páscoa de 2001, tive que decidir entre o futebol e a minha fé, pois o futebol ainda ocupava o lugar central no meu coração. Depois de cerca de 1 mês a faltar os cultos para ir jogar porque os jogos dos escalões jovens eram realizados nas manhãs de Domingo, a partir dessa Páscoa de 2001 decidi não mais faltar para ir jogar futebol. 

Como diria o saudoso pastor Eudo Tavares de Almeida, no seu livro “Acredite se quiser”, o futebol saiu do centro do meu coração naquele dia. Esse senhor através dos seus artigos da revista "A sentinela" inspirou muitos jovens. Nesse livro ele relatava que como grande futebolista, em 1950 militava no clube Grémio Desportivo Amarante de S. Vicente que tinha sido campeão de S. Vicente no ano anterior de 1949, interrompendo os sucessos do Mindelense e estava a um empate de sagrar bi campeão em 1950, quando no dia da decisão do título de 1950 ele decidiu não ir a jogo e permanecer no culto, sendo que seus colegas o foram buscar a porta da Igreja, e enviaram – lhe bilhetes dizendo “Só mais este jogo”, ao que ele respondeu que não iria a jogo nesse dia. O Amarante foi a jogo sem um dos seus melhores naquele dia e perdeu e o Mindelense foi campeão. Assim, eu também tomei a mesma decisão nessa Páscoa de 2001. Mas como o nosso bondoso Deus conhece o nosso coração e sabia que eu continuava a amar o futebol, deu-me uma nova oportunidade. 

Na época seguinte, 2001/2002, os campeonatos de futebol juvenis passaram a ser realizados na parte da tarde, divididos entre sábado e Domingo, o que me permitiu voltar a jogar o campeonato tendo passado pelos clubes mais modestos em termos de títulos, Desportivo de Monte Sossego (2001/2002) e Desportivo de Fonte Françês (2002/2003), sempre com muito prazer, antes tinha começado a dar os meus primeiros passos nos infantis do Altântico Futebol Clube de Monte Sossego, até que na época desportiva 2003/2004 consegui ingressar nos Juvenis do Clube Sportivo Mindelense, meu clube de coração que estava a organizar os escalões jovens depois de muitos anos só com o Futebol Sénior. Nessa altura, o Mindelense passava por 5 anos sem ganhar o campeonato regional e sentiu a necessidade de investir nos jovens, o que para mim foi uma enorme alegria o que me levou a correr para inscrever-me no clube para o campeonato regional de Juvenis da época desportiva 2003/2004. Foi uma época de muita alegria porque enfim tinha chegado a envergar a camisola do meu Clube Sportivo Mindelense. Certa vez, eu num sábado de sol ia a caminho da sede do Mindelense com as minhas botas na mão quando deparei-me com o meu pai a vir no seu carro na rua do Coco, tende ele prontamente me parado e perguntado a razão de estar aquela hora da tarde a dirigir-me para o centro da cidade do Mindelo (naquele tempo o centro do Mindelo ficava quase deserto depois das 13h da tarde de sábado), ao que eu lhe disse que ia a concentração para o jogo da tarde do Mindelense, o que o deixou bastante satisfeito, pois ele mesmo teria jogado nos seniores do Mindelense e do Derby.

Também é interessante como os rumos para chegar a este clube tinham passado por uma decisão tomada alguns anos antes em 2001 quando decidi pela fé cristã, em vez de continuar na Associação Académica do Mindelo.

A vida muitas vezes é feita de decisões, mas há decisões mais importantes que outras e por isso esse dia 22 de Janeiro de 2001 foi um dos primeiros dias em que tomei a decisão de abraçar com mais afinco a fé Cristã, outras seguiram, Páscoa de 2001 (muito marcante), mas esta foi a primeira na minha vida, mesmo sendo apenas um passeio na companhia dos meus irmãos na fé, o que refletiu em anos posteriores na minha vida. Continuei a amar o futebol até hoje, mas passei a valorizar cada coisa e colocar as coisas no seu devido lugar.  A grande verdade é que durante todos os anos em que joguei nos escalões jovens em Cabo Verde, nunca coloquei o futebol como prioridade acima dos estudos, pois apesar de ter talento para o futebol, todos os anos mudava de clube, pois terminado que era o campeonato não comparecia nos treinos até que estivesse quase a começar o campeonato do ano seguinte, época que era bastante curta. E como havia muitos talentos era fácil perder a titularidade não comparecendo nos treinos e como não gostava de ser suplente, procurava outro clube onde podia desenvolver as minhas habilidades. Portante assim como não colocava o futebol a frente dos estudos, também não podia colocar a frente da minha fé. 

Agradeço a Deus por me ter ajudado a tomar tal decisão. Hoje o futebol continua fazendo parte da minha vida, tenho saudades dos relatos da Rádio Nacional de Cabo Verde (aliás acompanho com muitas regularidade o campeonato de S. Vicente e Cabo Verde) e continuo a praticar aos sábados o meu treino de futebol por excelência, mas o Domingo para mim continua sendo sagrado como dia do Senhor. O tempo passou mas há dias que ficam para sempre em nossa memória e o dia 22 de Janeiro é um deles por certo, o dia da minha querida ilha de S. Vicente e o Monte Verde continua no imaginário de todos os São Vicentinos. Um parabéns a todos os São Vicentinos e a Cabo Verde em geral.

sábado, 11 de abril de 2020

A quem gratidão, gratidão.


Mindelo, 24 de Setembro de 2005 – Igreja do Nazareno de Monte Sossego
Passaram-se muitos anos mas a memória não me escapa. Depois de 2 anos como secretário da Juventude, em duas direções eleitas (30 de Junho de 2003 a 30 de Junho de 2005), que tinham também como Presidente no último ano eclesiástico, a Magdilene e Tesoureiro o Jandir, estava na hora da partida para outras paragens. Era um sábado de culto da Juventude como muitos outros, mas era o último culto da Juventude realizado regularmente aos sábados, pelo menos para mim, naquela congregação. Sábado seguinte partiria para Portugal para continuar os estudos.
Depois de me levar a vários sítios (Baía das Gatas, Ribeira de Julião, entre outros, não esquecendo a procura no hospital da médica aquando do meu adoecimento aos 8 anos), neste dia fui eu que levei a minha querida Avó Rosa Maria Silva da Graça a um lugar onde me sentia bem, não tinha sido a primeira vez, guardo pelo menos mais duas vezes antes desta data, uma delas aquando da inauguração do atual templo, mas desta vez era a minha despedida e a levei de braços dados para o culto da Juventude daquela noite sendo depois oferecido um sarau de despedida a mim e a Magdilene. Naquela noite cantaram-se vários cânticos e hinos mas um especial guardo na minha memória “Adeus mamãe, adeus papai, adeus nha terra cabo verde, adeus irmãos, adeus avós, até um dia si no incontrá”.
Foi um momento especial para mim pois estava me despedindo daquela que tinha sido minha Igreja durante os últimos 5 anos. Não sendo de origem familiar evangélica, contudo, sempre fui apoiado por minha família desde que abracei este caminho, sabendo que era um bom caminho. Estando debaixo de autoridade, como é bom as crianças terem o apoio dos que lhe são autoridade. A minha Avó Rosa foi sempre uma apoiadora e pude testemunhar disso.

No Domingo, depois da Escola Dominical e do Culto Devocional na Igreja do Nazareno de Monte Sossego, fui a tarde a Cruz João Évora despedir-me dos meus familiares do lado paterno, o meu Pai ainda o viria mais vezes depois, pois nós estávamos em frequente contacto, para depois descer rumo ao centro da cidade para ir ao Culto da Noite na Igreja do Mindelo, onde ia as vezes nas noites de Domingo, tendo depois passado pela Praça Nova, para dar uma última volta por esta icónica praça em que muitos mindelenses vão aos Domingos a noite.
O meu visto sairia por fim na 2ª feira na cidade da Praia. Todos que já passaram por este processo sabem a morosidade que são as constantes idas ao consulado de Portugal em São Vicente, algumas vezes sem sucesso como foi a penúltima em que fui com meu pai na 2ª feira. O visto só chegaria ao meio da semana. Pude assim ainda celebrar em jeito de despedida, o aniversário da minha querida mãe Joana da Graça, na quinta feira 29 de Setembro.
Uma semana depois da primeira despedida, um sábado de novo (1 de outubro). Agora era a despedida final. As 15 horas seria meu voo, a manhã foi passada em correrias para casas de familiares e amigos que não sabiam da minha ida para Portugal.
Sendo uma família numerosa, foram necessários dois carros para transportar minha família. A hora certa estava lá a porta da casa da minha Avó Rosa, vários amigos, familiares e no seu carro o meu Pai Avelino Andrade e a Doutora Odette Pinheiro no seu carro. O meu irmão Hélder e meu primo Anildo tiveram que apanhar uma boleia para irem ao aeroporto pois não houve espaço para todos nos carros. Lá também estava minha querida Avó Rosa naquela tarde de sábado. Ainda me lembro da sua última imagem eu já a subir as escadas do avião, visto na altura a distância de segurança não ser muita.
“Até um dia si no incontra”, sim graças a Deus a pude rever das 3 vezes que voltei a cabo Verde, em 2010, 2013 e 2019, o que não tive a mesma oportunidade de rever outras pessoas muito queridas como meu pai Avelino e as duas irmãs da minha avó, tia Nininha e tia Paula.
Agradeço a Deus por esta dádiva. Nos últimos tempos teve muitas visitas de vários familiares e amigos e na impossibilidade da minha Avó ir, a Igreja que são as pessoas, foram a ela através de vários irmãos que através das constantes orações e palavras de conforto a foram animando. Obrigado a todos. “Até um dia si no incontrá”. Sim tenho a esperança de a encontrar no Reino dos céus. “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” Lamentações de Jeremias 3:21.
Por isso parafraseando o apóstolo Paulo, a quem gratidão, gratidão; a quem reconhecimento, reconhecimento; a quem louvor, louvor; a quem honra, honra. Romanos 13:7. Por fim, a Deus toda a honra e Glória. Porque Dele e Por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória pois a Ele eternamente. Amém.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Os 500 anos da Reforma Protestante.

Sabia que há exatamente 500 anos no dia 31 de Outubro de 1517, Martinho Lutero desafiou a Igreja Católica ao pregar a porta da Igreja de Witemberg na Alemanha, as 95 teses?
Sem dúvida, Martinho Lutero acreditava que a Igreja se tinha desviado da Palavra de Deus, chegando os seus líderes de então ao ponto de enganarem o povo com a “venda da salvação” (como se isso fosse possível) através das indulgências. Hoje celebramos este dia como um marco na reforma da Igreja Cristã, na medida em que levou ao recentrar da mensagem do evangelho baseando-a somente na Palavra de Deus. As suas 95 teses podem ser resumidas nas “5 solas” que fundamentam a reforma protestante:
Sola Gratia, somente através da Graça somos salvos. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Efesios 2:8;
Sola Fide, somente a fé, a justificação do crente é recebida somente por intermédio da fé, sem qualquer interferência das boas obras. Estas são consequência da salvação operada na vida do cristão única e exclusivamente pela obra expiatória de Cristo na cruz do Calvário. Portanto e consequentemente, através da obra santificadora do Espírito Santo nas nossas vidas as obras tornam-se realidade na vida do cristão. Efésios 2:10 “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.”
Sola Scriptura (somente a Escritura). Somente a Bíblia Sagrada contem toda a verdade necessária encerrando no seu Cânone a mensagem do evangelho. A Bíblia Sagrada é a única autoridade para a fé cristã. Jesus Cristo disse aos seus discípulos, “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5.24). Para os reformadores, a Bíblia não era um livro de doutrinas a serem aceitas intelectualmente ou mediante a autoridade da igreja, mas uma revelação direta, viva e pessoal de Deus, acessível a qualquer pessoa.
Sola Christus (Somente Cristo). Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens e não há salvação através de nenhum outro. “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” 1º Timóteo 2:5.
Sola Deo Glória. (Somente glória a Deus). Deus é o Único que merece receber a glória, adoração e louvor. “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.” Is.42:8; “ Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” Romanos 11:36.